segunda-feira, 15 de março de 2010

A confusa ilha de Scorsese

A assinatura da direção é o ponto principal. Mas o elenco é ótimo. Resultado: num único fim de semana arrecadou 40 milhões de dólares, metade do que gastou em toda a produção. A quantia representa a melhor arrecadação de abertura na carreira do diretor Martin Scorsese e de seu novo menino prodígio, o protagonista Leonardo DiCaprio. Estou falando do longa A Ilha do Medo, que em cartaz nos cinemas de todo o país.

Ambientada na década de 50, as câmeras do excelente cineasta americano acompanham dois oficiais federais (DiCaprio e Mark Ruffalo) na investigação do desaparecimento de uma assassina que escapou de um hospital psiquiátrico. A tal ilha, onde se localiza esse assustador hospital, se torna um pesadelo para ambos. No local, Teddy descobre que os médicos realizam experiências radicais com os pacientes, envolvendo métodos ilegais e antiéticos. Busca informações, mas enfrenta a resistência dos médicos em lhe fornecer os arquivos que possam permitir que o caso seja aberto. Pra piorar a situação, um furacão (nessa seqüência Scorsese dá um show e mostra como um cineasta pode ser realista e estilizado ao mesmo tempo) deixa a ilha sem comunicação. O auge do pesadelo ocorre quando diversos prisioneiros conseguem escapar.


Não falo mais do roteiro. Melhor que o leitor descubra. Mas você se lembra daquelas imagens antológicas em Os Bons Companheiros e aquela fantástica reconstituição de época em Aviador? O brilhante cineasta continua produzindo belas imagens. Uma delas pode ser vista quando, do meio da neblina, surge a tal Ilha do Medo e o espectador descobre a imagem junto com os dois oficiais. Quanto à reconstituição de época, ele continua imbatível. Em nenhum momento temos qualquer dúvida que de fato a história se desenvolve nos anos 1950. No momento em que o protagonista tem um pesadelo há a reconstituição de algumas imagens do Holocausto (ele é ex combatente). Essas imagens sem dúvida irão figurar entre as mais perfeitas da história do cinema.


É um filme perfeito? Eu gostaria que fosse, mas está longe disso. Pouco depois do segundo terço do filme, a piração do protagonista parece ter contaminado o diretor de Taxi Driver. Scorsese não consegue mais contar a história que se desenvolveu tão bem até ali. O espectador já não sabe mais o que narrativa e o que é piração, e à medida que história vai chegando ao fim fica claro que ele não tem explicação para a história que vimos até então. É uma pena, mas se eu estivesse em teu lugar assistiria ao filme. Vale pelos dois terços inicias. São deliciosos.

Por Manuel Marques

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